quinta-feira, 18 de março de 2010

A Influência da Família na Vida da Criança Surda e da Criança Ouvinte

A Influência da Família na Vida da Criança Surda e da Criança Ouvinte

Deise Zambeli

Graciela Rodrigues

Melânia de Melo Casarin

Ao longo da vida dos surdos e de seus familiares, alguns problemas de ordem social, psicológica e educacional são vivenciados, favorecendo o aparecimento de tensões. Dentre estas podemos citar o diagnóstico da surdez como sendo o marco inicial das mesmas.

No momento em que a mãe aguarda o nascimento de seu filho, é criada uma imagem de criança “ideal”, ou seja, que não apresente nenhuma anormalidade. Porém, se esse filho tão desejado apresentar algo fora dos padrões considerados “normais”, qual será a reação desta família, se ela for de ouvintes? E, se ela for de surdos?

Diante destes questionamentos, considera-se que o contexto familiar de ambas as situações é distinto. Se os membros familiares (pai e mãe) forem ouvintes, ao receberem o diagnóstico da surdez de seu filho, haverá dificuldade na aceitação desta criança, pois não houve nenhuma preparação emocional para esta situação. Por outro lado, no contexto familiar de surdos, os pais estão dentro de uma comunidade surda e esta situação de ter um filho surdo não vai lhes causar pânico e rejeição pelo fato de conviverem com esta condição.

Pesquisas no âmbito do desenvolvimento das crianças surdas, filhas de pais ouvintes, e crianças surdas, filhas de pais surdos, demonstram que o mesmo é significativamente diferenciado.

Na primeira situação as crianças adquirem uma menor autoconfiança, muitas vezes não estabelecem uma comunicação correta com seus pais devidos, na maioria dos casos, pelo desconhecimento da Língua de Sinais, confinando-se a códigos lingüísticos pobres e às vezez inexistentes, o que irá refletir na sua escolarização. Já na segunda situação, é estabelecida uma melhor interação entre a criança e seus familiares, o que lhe proporcionará autoconfiança, bem como motivação e, além disso, terão uma forma de comunicação efetiva em Língua de Sinais.

Segundo alguns teóricos, os pais ouvintes têm anseio de que seus filhos aprendam a falar, como se isso fosse a “solução” para os problemas. Acrescentam ainda que quanto mais tarde a surdez for diagnosticada maior será o prejuízo com relação ao desenvolvimento da linguagem, pois esclarecem que, a partir de 2 ou 3 anos, a criança inicia seu aprendizado da linguagem e, se o diagnóstico tardar, os aspectos lingüísticos e cognitivos poderão ficar comprometidos.

A partir dessas considerações, observa-se o quanto é importante o ambiente familiar, as interações entre os surdos e seus pares e entre surdos e ouvintes a fim de que essas pessoas possam adquirir uma identidade e para que seu desenvolvimento psíquico, social e educacional ocorra de forma satisfatória.

Acadêmicas do curso de Educação Especial – UFSM.

Professora – UFSM

A SURDEZ, O SURDO E SEU DISCURSO

Neuma Chaveiro
Maria Alves Barbosa

A língua, oral-auditiva ou espaço-visual, proporciona a comunicação e favorece a organização do pensamento. A surdez afeta o principal meio de comunicação entre as pessoas, inviabilizando o acesso à língua oral-auditiva, logo, a linguagem do surdo tem-se estruturado através da língua de sinais, que é natural e que possui estruturas próprias diferentes das línguas oralizáveis (FERNANDES, 1998).

A língua de sinais é o canal que os surdos dispõem para receber a herança cultural, e a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS é utilizada pela comunidade surda brasileira que se torna diferente das línguas orais, pois, utiliza o canal visual-espacial. É adquirida como língua materna pelas crianças surdas e o simples contato com a comunidade de surdos adultos propicia a sua aquisição naturalmente (BRITO, 1993).

Uma concepção inadequada e muito comum é que a língua de sinais seria universal. Na verdade, os surdos de diferentes países usam línguas de sinais muito diferentes, além disso, a língua de sinais não é simplesmente uma versão manual da língua oral usada pela comunidade ao redor. Tanto a LIBRAS, quanto a Língua Americana de Sinais (ASL) e a Língua de Sinais Britânica, por exemplo, são mutuamente incompreensíveis. (HICKOK, et al. Edição Especial, s.d. n.04, p. 50 – 57).

Foi imposto, em 1880, no ll Congresso Internacional de Educação de Surdos, em Milão, que a comunicação do surdo acontecesse somente na língua oral de seu país, atribuindo à língua de sinais um estatuto de língua inferior, incapaz de expressar conceitos abstratos, sendo superficial e com conteúdo limitado. (SACKS, 1998).

Atualmente as pesquisas envolvendo as línguas de sinais indicam o contrário, referindo que a língua de sinais é um sistema lingüístico altamente estruturado e tão complexo como as línguas faladas, estruturando-se neurologicamente nas mesmas áreas cerebrais das línguas orais. (HICKOK, et al. Edição Especial, s.d. n.04, p. 50 - 57).

De acordo com o Ministério da Educação do Brasil “as garantias individuais do surdo e o pleno exercício da cidadania alcançaram respaldo institucional decisivo com a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, em que é reconhecido o estatuto da Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda, com implicações para sua divulgação e ensino, para o acesso bilíngüe à informação em ambientes institucionais e para a capacitação dos profissionais que trabalham com os surdos” (BRASIL, 2002, v. 2, p. 62).

Em relação a aquisição da linguagem pelos surdos, observa-se pontos divergentes. Profissionais que trabalham com a filosofia oralista acreditam que a língua de sinais é prejudicial à aquisição da língua oral. A abordagem bilíngüe apresenta uma versão diferente explicitando que a língua de sinais fornecerá todo aparato lingüístico necessário para estruturação do pensamento e aquisição de outras línguas (QUADROS, 1997).

Com as diferentes concepções abrangendo a língua que o surdo utiliza, torna-se pertinente questionar até que ponto dominar ou não a LIBRAS interfere na construção do discurso do surdo.

De acordo com ORLANDI (1999, p. 43) “a formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada determina o que pode e deve ser dito. Por aí podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem”. Para o surdo, ter acesso ou não a LIBRAS, influencia na elaboração das formações discursivas? A LIBRAS possibilita uma maior mobilidade nas formações discursivas?

Segundo ORLANDI (1999, p. 32), “o interdiscurso é todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que elas já façam sentidos”. Como o surdo utilizará o interdiscurso para formular o seu intradiscurso? Como se dá a construção de todos os dizeres já ditos? Até que ponto a LIBRAS é determinante nesse processo?

O acesso a LIBRAS é primordial na construção da identidade da pessoa surda em todos os seus aspectos, a saber, lingüísticos, cognitivos e social. Exposto a LIBRAS o mais precoce possível, o sujeito surdo teria assim garantido seu direito a uma língua de fato.

Para o profissional de saúde uma efetiva comunicação com seus clientes propicia um atendimento de qualidade, portanto uma formação que vise compreender o sujeito surdo não apenas sua patologia favorece uma assistência humanizada. (BARBOSA et al, 2003)

Para maiores informações acesse: http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_2/surdez.html

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