A língua, oral-auditiva ou espaço-visual, proporciona a comunicação e favorece a organização do pensamento. A surdez afeta o principal meio de comunicação entre as pessoas, inviabilizando o acesso à língua oral-auditiva, logo, a linguagem do surdo tem-se estruturado através da língua de sinais, que é natural e que possui estruturas próprias diferentes das línguas oralizáveis (FERNANDES, 1998).
A língua de sinais é o canal que os surdos dispõem para receber a herança cultural, e a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS é utilizada pela comunidade surda brasileira que se torna diferente das línguas orais, pois, utiliza o canal visual-espacial. É adquirida como língua materna pelas crianças surdas e o simples contato com a comunidade de surdos adultos propicia a sua aquisição naturalmente (BRITO, 1993).
Uma concepção inadequada e muito comum é que a língua de sinais seria universal. Na verdade, os surdos de diferentes países usam línguas de sinais muito diferentes, além disso, a língua de sinais não é simplesmente uma versão manual da língua oral usada pela comunidade ao redor. Tanto a LIBRAS, quanto a Língua Americana de Sinais (ASL) e a Língua de Sinais Britânica, por exemplo, são mutuamente incompreensíveis. (HICKOK, et al. Edição Especial, s.d. n.04, p. 50 – 57).
Foi imposto, em 1880, no ll Congresso Internacional de Educação de Surdos, em Milão, que a comunicação do surdo acontecesse somente na língua oral de seu país, atribuindo à língua de sinais um estatuto de língua inferior, incapaz de expressar conceitos abstratos, sendo superficial e com conteúdo limitado. (SACKS, 1998).
Atualmente as pesquisas envolvendo as línguas de sinais indicam o contrário, referindo que a língua de sinais é um sistema lingüístico altamente estruturado e tão complexo como as línguas faladas, estruturando-se neurologicamente nas mesmas áreas cerebrais das línguas orais. (HICKOK, et al. Edição Especial, s.d. n.04, p. 50 - 57).
De acordo com o Ministério da Educação do Brasil “as garantias individuais do surdo e o pleno exercício da cidadania alcançaram respaldo institucional decisivo com a Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, em que é reconhecido o estatuto da Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda, com implicações para sua divulgação e ensino, para o acesso bilíngüe à informação em ambientes institucionais e para a capacitação dos profissionais que trabalham com os surdos” (BRASIL, 2002, v. 2, p. 62).
Em relação a aquisição da linguagem pelos surdos, observa-se pontos divergentes. Profissionais que trabalham com a filosofia oralista acreditam que a língua de sinais é prejudicial à aquisição da língua oral. A abordagem bilíngüe apresenta uma versão diferente explicitando que a língua de sinais fornecerá todo aparato lingüístico necessário para estruturação do pensamento e aquisição de outras línguas (QUADROS, 1997).
Com as diferentes concepções abrangendo a língua que o surdo utiliza, torna-se pertinente questionar até que ponto dominar ou não a LIBRAS interfere na construção do discurso do surdo.
De acordo com ORLANDI (1999, p. 43) “a formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada determina o que pode e deve ser dito. Por aí podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem”. Para o surdo, ter acesso ou não a LIBRAS, influencia na elaboração das formações discursivas? A LIBRAS possibilita uma maior mobilidade nas formações discursivas?
Segundo ORLANDI (1999, p. 32), “o interdiscurso é todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos. Para que minhas palavras tenham sentido é preciso que elas já façam sentidos”. Como o surdo utilizará o interdiscurso para formular o seu intradiscurso? Como se dá a construção de todos os dizeres já ditos? Até que ponto a LIBRAS é determinante nesse processo?
O acesso a LIBRAS é primordial na construção da identidade da pessoa surda em todos os seus aspectos, a saber, lingüísticos, cognitivos e social. Exposto a LIBRAS o mais precoce possível, o sujeito surdo teria assim garantido seu direito a uma língua de fato.
Para o profissional de saúde uma efetiva comunicação com seus clientes propicia um atendimento de qualidade, portanto uma formação que vise compreender o sujeito surdo não apenas sua patologia favorece uma assistência humanizada. (BARBOSA et al, 2003)
Para maiores informações acesse: http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_2/surdez.html
Ótimo este texto
ResponderExcluirtambém gostei muito do teu texto.
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