terça-feira, 30 de março de 2010

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Limites e Possibilidades


Ao se analisar a Educação de Jovens e Adultos em um sentido mais amplo, tomando como referência a pluralidade dos sujeitos que dela fazem parte, constata-se que, longe de estar servindo à democratização das oportunidades educacionais, ela se conforma no lugar dos que “podem menos e também obtêm menos”. Conforme lembra Arroyo (2001.p.10), “os olhares sobre a condição social política, e cultural dos alunos da educação de Jovens e Adultos têm condicionado as diversas concepções da educação oferecida”.
Arroyo (2001), ainda chama atenção para o discurso escolar que os trata, a priori, como evadidos, defasados e outros, deixando de fora dimensões da condição humana desses sujeitos, básicas para o processo educacional.
Portanto, construir uma educação de Jovens e Adultos que produza seus processos pedagógicos, considerando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibilidades de transformar a escola que os atende em uma instituição aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas; que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos como cidadãos e não somente como objeto de aprendizagem.
Para tanto, é essencial que os processos de formação de educadores procurem conhecer as diferentes formas de atendimento da educação de Jovens e Adultos, identificando seus sujeitos, os cotidianos deles, e, fundamentalmente, pensar as possibilidades de um dia-a-dia mais promissor para todos aqueles que encontram nessa modalidade educativa, muitas vezes, a última chance de escolarização.
Por outro lado, os educadores precisam estar atentos para as demandas e potencialidades dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos, considerando-os sujeitos em todas as propostas e projetos pedagógicos, visando possibilitar uma qualidade de vida melhor, através da capacidade de ler, escrever, interpretar e utilizar o que aprendeu no trabalho, nas questões culturais e sociais.
Atualmente, constata-se uma significativa evolução teórica na área de leitura e escrita.
Na alfabetização de jovens e adultas propõe-se que o processo de a aprendizagem da leitura e da escrita ocorra a partir da didática com textos. Essa concepção didática é pouco conhecida e conseqüentemente pouco praticada pelos professores que historicamente, preferem adotar as propostas do silabário como a principal metodologia de alfabetização de jovens e adultos.
Inferimos que as dificuldades de os professores trabalharem com textos estejam relacionados à sua formação. Os conhecimentos e concepções apreendidos ao longo da experiência escolar, possivelmente, estiveram sedimentados na pedagogia tradicional que defende uma proposta de alfabetização pautada no silabário. Nessa perspectiva, muitos professores alfabetizadores acreditam que é fundamental ter um treino da memória, da coordenação motora, noção de lateralidade e discriminação visual e auditiva como base do processo de alfabetização tanto de crianças quanto de jovens e adultos. Por influência da pedagogia tradicional, crêem que os conteúdos escolares somente serão aprendidos através da memorização. Não percebem a necessidade de uma construção conceitual daquilo que está sendo aprendido e ensinado na escola.
Defende-se que a proposta de alfabetizar a partir de textos possibilita contribuições significativas na educação de jovens e adultos. Uma delas relaciona-se a necessidade de trabalhar os conteúdos curriculares de forma contextualizada, o que requer conhecimento e reflexão sobre a realidade social dos educandos. É importante compreender que o trabalho com conteúdos alfabéticos exige um processo sistemático de reflexão sobre suas características, suas regularidades e suas funcionalidades.
Portanto, alfabetizar significa aprender a refletir sobre a leitura e a escrita e compreender o funcionamento do sistema alfabético. Alfabetização é uma construção conceitual apoiada na reflexão sobre as características e o funcionamento da leitura e da escrita. A proposta de alfabetização com textos considera que ler é atribuir um significado e por isso, fornece estratégias de decodificação, seleção, antecipação, inferência e verificação da leitura. A interação com textos reais possibilita trabalhar os diferentes portadores de textos de acordo com a realidade social e com a linguagem dos educandos.
Aprender a ler e a escrever lendo e escrevendo é um dos princípios da proposta de alfabetização com textos. Essa prática requer um conjunto de procedimentos de análise e de reflexão sobre a escrita que exigem uma elaboração cognitiva por parte do aluno, usando como referências os conhecimentos sobre o valor sonoro convencional das letras e informações parciais sobre os conteúdos, para elaborar hipóteses a respeito do que está escrito, utilizando simultaneamente estratégias de leitura que decodifiquem, selecionem, antecipem, infiram e verifiquem o significado do texto.
Na sociedade grafocêntrica, os educandos convivem cotidianamente com o letramento, têm acesso a inúmeros portadores textuais significativos que representam as ações humanas e possibilitam contato com o mundo letrado. Nesse sentido, alfabetizar com textos significa entrar no mundo da escrita e da leitura com compreensão, ampliando a visão de mundo no qual se está inserido. As pesquisas desenvolvidas pela psicogênese mostram que na alfabetização existe um sujeito que busca adquirir conhecimentos, que propõe problemas e tenta resolvê-los segundo sua própria metodologia.

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