terça-feira, 30 de março de 2010

DIVERSIDADE: O GRANDE DESAFIO SOCIAL




De acordo com o dicionário Houaiss, diversidade significa qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra; falta de igualdade ou de semelhança; alteração digna de atenção, de reparo; modificação, transformação; característica do que é vário; diversidade, disparidade; falta de harmonia; divergência; falta de eqüidade; desproporção, desigualdade.
Em verdade, pode-se constatar que o Brasil possui a segunda maior população afro-descendente em caráter mundial, depois da Nigéria. O termo “afro-descendente” permeia por uma série de conceitos e termos precedentes que, na prática, consiste no indivíduo ver-se, sentir-se e perceber-se como um descendente de africanos, colocando-se secundariamente como brasileiros. Em uma entrevista ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Kabengele MUNANGA comenta sobre quem é o negro no Brasil:
Parece simples definir quem é negro no Brasil. Mas, num país que desenvolveu o desejo de branqueamento, não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Há pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não se consideram como negras. Assim, a questão da identidade do negro é um processo doloroso.(2004)

Com relação à fala da autora, reconhece-se que no Brasil, sobretudo na Bahia, ainda se faz presente um considerável número de pessoas que se aceitam mais na categoria de “euro-descendentes” do que como “afro-descendentes”, devido ao processo de omissão e aniquilação da participação histórica do negro em nossa cultura. As políticas públicas criam mecanismos, a exemplo das cotas, para que o afro-descendente se apresente com maior fluência na sociedade. Mas se questiona até que ponto essas políticas são compreendidas e contempladoras dos direitos dos indivíduos.
De acordo com os conceitos apresentados nos dicionários que circulam no cunho social, diferença consiste basicamente na qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra falta de igualdade ou de semelhança. A diversidade está mais atrelada à viabilidade, ou seja, remete à heterogeneidade. Percebe-se, portanto, que ambas são síncronas, mas com compreensões individualizadas diferenciadas.

DIFERENÇA / DIFERENTE

Em nosso país, observa-se três curcunstâncias discriminatórias básicas sofridas pelo afro-descendente no mundo corporativo:
 Dificuldades de se obter uma vaga para as funções mais bem remuneradas e valorizadas, ou seja, a discriminação ocupacional.
 Diferenças salariais no exercício das mesmas funções exercidas por brancos.
 Preocupação que as organizações trabalhistas têm, frente à imagem que pode ser construída de um setor de trabalho composto por profissionais afro-descendentes.
Este perverso cenário apresenta-se camuflado pelo discurso de inclusão social e atribuição do preconceito como ação do “outro”. Mas quem é esse outro? Recorda-se neste momento a fala da educadora Nocoleta MATTOS (2007), quando a mesma dizia que preconceito é coisa do outro... e o outro para o outro sou eu. Deve-se acreditar que não há mais espaço para sinalizar a questão do outro, mas sentir-se inserido no processo, ciente que a diferença não é termo do negro, índio, homossesual, afro-descendente: em nossa normalidade, já somos todos diferentes.
Frente à riqueza cultural em que nosso país encontra-se permeado, poderíamos conviver alicerçados a uma realidade de paraíso da democracia racial. Mas de fato, o próprio desconhecimento e descaso da realidade fazem do tema em questão uma esperança de inclusão social.
Objetivando não afunilar a questão da diversidade à afro-descendência, acorda-se também a realidade inaceitável e similar dos pobres, que não foram oportunizados a avançarem economicamente e ficam “a margem” da sociedade como incapacitados e fracassados; das mulheres que, mesmo vivendo no século XXI, ainda disputam por igualdade de direitos com relação ao sexo oposto; dos obesos, que sofrem preconceito pela situação estética e “subentenção” de inatividade no trabalho; do nordestino, que também é ‘rotulado’ como intelectualmente despreparado; o deficiente físico, entre outros.
As compreensões estão expostas, bem como a situação social passa a ser conhecida com teor preocupante. O que precisa a partir de então, é promover discussões sólidas e significativas para difundir os conceitos e compreensões sobre diversidade, inclusão e identidade de forma consciente, em que todos se vejam inseridos no processo e responsáveis pela diferença nos resultados subseqüentes.
Abrir a mente é o primeiro passo para perceber que o ‘outro’ também sou ‘eu’. A diferença está em todos, do contrário, não haveria tantos plurais, a exemplo de religiões, descendências, traços físicos, idiomas, dialetos e, sobretudo, opiniões. Somos pessoas plurais, portanto, somos diferentes.


REFERÊNCIAS:
MUNANGA, Kabengele. In: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Vol.18, nº 50. São Paulo: 2004.

MATTOS, Nicoleta Mendes de. Conferência Regional de Educação Básica. Realizado nos dias 23 e 24/11/2007. Valença-BA. 2007.

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