terça-feira, 30 de março de 2010

Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra
Bob Marley


A DIVERSIDADE E A REALIDADE DA EDUCAÇÃO DO CAMPO


No Brasil, apesar de uma década de considerável melhoria no tocante ao acesso à escolarização, em que 96% das crianças de 7 a 14 anos estão matriculadas, ainda permanecem os problemas da baixa qualidade e eficiência dos sistemas de ensino. Nesta perspectiva, uma das restrições para o alcance da universalização com qualidade e o aumento dos índices de conclusão do ensino fundamental encontra-se relacionada à efetividade da educação presente no meio rural brasileiro (Bof, 2006). É no meio rural que encontramos os mais baixos índices de escolaridade de toda sociedade brasileira.
Um meio rural que, segundo os dados divulgados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população residente de aproximadamente 32 milhões de brasileiros. Ou seja, que apesar da intensa urbanização ocorrida nas últimas décadas, cerca de um quinto da população do nosso país encontra-se vivendo no meio rural.
Todavia, o nível de instrução e o acesso à educação dessa população são importantes indicadores da realidade educacional presente no meio rural do Brasil. Os dados do IBGE, sistematizados no trabalho intitulado Panorama da Educação do Campo (Bof, 2006), mostram que a escolaridade média da população de 15 anos ou mais que vive no meio rural brasileiro, de 3,4 anos, corresponde à quase metade da estimada para a população urbana, que é de 7,0 anos. Se os índices de analfabetismo do Brasil são bastante elevados, no meio rural esses indicadores são ainda mais preocupantes. Segundo o IBGE, 29,8% da população adulta – 15 anos ou mais -, que vive no meio rural é analfabeta, enquanto no meio urbano essa taxa é de 10,3%. É importante ressaltar que a taxa de analfabetismo aqui considerada não inclui os analfabetos funcionais, ou seja, aquela população com menos de quatro séries do ensino fundamental. Outros dados revelam, ainda, que no meio rural brasileiro, 6% das crianças, de 7 a 14 anos, encontram-se fora dos bancos escolares; que apesar de 65,3% dos jovens, de 15 a 18 anos, estarem matriculados, 85% deles apresentam defasagem de idade-série, o que indica que eles ainda permanecem no ensino fundamental; que somente 2% dos jovens que moram no campo freqüentam o ensino médio.
A Educação rural se constitui numa ação “compensatória” – trata os sujeitos do campo como incapazes de tomar suas próprias decisões. São sujeitos que apresentam limitações, em função das poucas oportunidades que tiveram em sua vida e do pouco conhecimento que tem.
A educação é dada aos indivíduos para suprir suas carências mais elementares – Educação supletiva. Transmite-se a cada indivíduo somente os conhecimentos básicos, pois se acredita não ser necessário aos sujeitos do campo, que lidam com a roça, aprender conhecimentos complexos, que desenvolvam sua capacidade intelectual.
A educação é tida como um favor e não como um direito!
Para mudarmos essa realidade é preciso uma educação definida coletivamente pelos próprios sujeitos do campo. Que não se faz sem os sujeitos do campo ou para os sujeitos do campo, mas com os sujeitos do campo. Os sujeitos do campo são os protagonistas da educação que se realiza no Campo!
Uma educação entende o campo como o lugar onde vivem os sujeitos do campo; como sinal de vida, de trabalho, de cultura; de relações sociais.
Uma educação que quer expressar os interesses e necessidades de desenvolvimento dos sujeitos que vivem, trabalham e são do campo, e não meramente reproduzir os valores do desenvolvimento urbano.
Uma educação entendida não como um fim em si mesma, mas como um instrumento de construção da hegemonia de um projeto de sociedade: Includente, Democrática e Plural.
A educação parte do reconhecimento de que no campo existem uma pluralidade de sujeitos que podem conviver numa relação dialógica e fraterna.
Uma educação que contribui para a construção de uma outra relação entre o campo e a cidade, enfrentando a hierarquia e a desigualdade atualmente existentes.
A Educação do Campo se realiza no conjunto dos Movimentos sociais, das lutas e organizações do povo do campo! Na luta pela terra e por condições dignas de vida e de afirmação de sua identidade.
A Educação do Campo se constitui numa ação “emancipatória” – incentiva os sujeitos do campo a pensar e agir por si próprios, assumindo sua condição de sujeitos da aprendizagem, do trabalho e da cultura.
Emancipar significa romper com a tutela de outrem, significa ter a possibilidade de tomar suas próprias decisões, segundo seus interesses e necessidades.
As populações do campo têm o direito de definir seus próprios caminhos, suas intencionalidades, seus horizontes.

A diversidade na escola:
reconhecimento, multiculturalismo e tolerância


A formação das identidades depende dos processos de socialização e de ensino e aprendizagem que ocorrem de acordo com as características físicas, cognitivas, afetivas, sexuais, culturais e étnicas dos envolvidos nos processos educativos.
O desenvolvimento da identidade do ser humano, como nos ensina Habermas (1983), pode ser analisado como um processo de aprendizagem:
a) Lingüística: para a comunicação;
b) Cognitiva: para a busca dos conhecimentos necessários para a vida em sociedade;
c) Interativa: para a ação e a interação com o outro.
De uma perspectiva geral, todos os processos educativos devem levar ao desenvolvimento desses três conjuntos de competências.
A educação é o resultado de relações sociais que podem capacitar àqueles que participam do processo educativo para:
a) a sobrevivência nas sociedades contemporâneas;
b) a busca da superação da ordem social existente;
c) ((os objetivos a) e b);
d) nenhum dos dois objetivos.
Cabe aos participantes dos processos educativos a decisão sobre a ênfase que será adotada. A educação é também um processo social do qual participamos enquanto realizamos uma opção entre diferentes valores e objetivos a serem alcançados.
Uma educação democrática é aquela em que todos os envolvidos podem participar na definição dos rumos da educação, e não só os dirigentes, professores, acadêmicos e técnicos.
A escola é um espaço público para a convivência fora da vida privada, íntima, familiar. Ao nos capacitarmos para a convivência participativa na escola, participamos de um processo de aprendizagem que também nos ensina como participar do restante da vida social.
A escola como esfera pública democrática pode possibilitar a capacitação de pais, alunos e educadores para a participação na busca de soluções para os problemas da escola, do bairro, da cidade, do Estado, do País e da vida da espécie humana no Planeta.
A democracia é um processo de negociação permanente dos conflitos de interesses e idéias. Para haver essa negociação permanente é preciso o respeito à diferença. Uma escola que respeita a diferença é uma escola pluralista que ensina a viver em uma sociedade que também é heterogênea.
Para tanto, todos devem ter o direito de falar, opinar e participar nos processos decisórios. É participando que se aprende a participar. Uma escola “perfeita”, na qual ninguém precisa dar nenhuma opinião, é um desastre educativo. O problema é que o controle e a disciplina, a idéia de ordem, organização e limpeza muitas vezes se tornam prioritários em relação ao direito de participação.
Um ponto de partida para que exista o respeito à diversidade na escola é aceitarmos que os agentes que interagem na escola têm interesses, visões de mundo e culturas diferentes e nenhum de nós tem o monopólio da verdade, da inteligência e da beleza. Daí a necessidade de negociações permanentes para que todos façam concessões, e todos tenham ao menos parte dos seus interesses e valores contemplados no espaço público da escola.
Ao tratar da diversidade humana na escola podemos ter como parâmetro a necessidade de reconhecimento que caracteriza os seres humanos.
Para interpretarmos quem somos como coletividade, ou quem é como indivíduos, dependemos do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele”, nos ensina Habermas (1983: 22).
O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social.
Como também nos ensina Charles Taylor (1994: 58), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.”
Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências e grupos subalternos, pobres, negros, prostitutas, homossexuais, é deprimente e humilhante para estes e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política dos grupos discriminados.
Para que haja respeito à diversidade na escola é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito. Mas para não nos restringirmos a uma concepção liberal de reconhecimento, devemos também questionar os mecanismos sociais, como a propriedade, e os mecanismos políticos, como a concentração do poder, que hierarquizam os indivíduos diferentes em superiores e dominantes, e em inferiores e subalternos.
Em outras palavras, ao considerarmos que os seres humanos dependem do reconhecimento que lhes é dado, estamos reconhecendo que a identidade do ser humano não é inata ou pré-determinada, e isso nos torna mais críticos e reflexivos sobre a maneira como estamos contribuindo para a formação das identidades dos nossos alunos.
Como ainda nos ensina Taylor (1994: 58), “a projeção sobre o outro de uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir até o ponto em que essa imagem seja internalizada”. E não “dar um reconhecimento igualitário a alguém pode ser uma forma de opressão”.
Porém, quando afirmamos que “todos os seres humanos são igualmente dignos de respeito” (Taylor, 1994: 65), isso não pode significar que devemos deixar de considerar as inúmeras formas de diferenciação que existem entre os indivíduos e grupos.
Devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja assimetria, desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos. De novo Taylor (1994: 64): “Para aqueles que têm desvantagens ou mais necessidades é necessário que sejam destinados maiores recursos ou direitos do que para os demais”.
As sociedades contemporâneas são heterogêneas, compostas por diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão quase que permanentemente em contato. Os diferentes são obrigados ao encontro e à convivência. E são assim também as escolas.
As idéias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental, econômica, já que teremos que conviver de alguma maneira.
Stuart Hall (2003) identifica pelo menos seis concepções diferentes de multiculturalismo na atualidade:
1. Multiculturalismo conservador: os dominantes buscam assimilar as minorias diferentes às tradições e costumes da maioria;
2. Multiculturalismo liberal: os diferentes devem ser integrados como iguais na sociedade dominante. A cidadania deve ser universal e igualitária, mas no domínio privado os diferentes podem adotar suas práticas culturais específicas;
3. Multiculturalismo pluralista: os diferentes grupos devem viver separadamente, dentro de uma ordem política federativa;
4. Multiculturalismo comercial: a diferença entre os indivíduos e grupos deve ser resolvida nas relações de mercado e no consumo privado, sem que sejam questionadas as desigualdades de poder e riqueza;
5. Multiculturalismo corporativo (público ou privado): a diferença deve ser administrada, de modo a que os interesses culturais e econômicos das minorias subalternas não incomodem os interesses dos dominantes;
6. Multiculturalismo crítico: questionam a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Apóia os movimentos de resistência e de rebelião dos dominados.
Os multiculturalismo nos ensinam que reconhecer a diferença é reconhecer que existem indivíduos e grupos que são diferentes entre si, mas que possuem direitos correlatos, e que a convivência em uma sociedade democrática depende da aceitação da idéia de compormos uma totalidade social heterogênea na qual:
a) não poderá ocorrer a exclusão de nenhum elemento da totalidade;
b) os conflitos de interesse e de valores deverão ser negociados pacificamente;
c) a diferença deverá ser respeitada.
A política do reconhecimento e as várias concepções de multiculturalismo nos ensinam, enfim, que é necessário que seja admitida à diferença na relação com o outro. Isto quer dizer tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos.
A democracia é uma forma de viver em negociação permanente tendo como parâmetro a necessidade de convivência entre os diferentes, ou seja, a tolerância. Mas para valorizar a tolerância entre os diferentes temos que reconhecer também o que nos une.
Referências
HABERMAS, Jurgen. Para a reconstrução do materialismo histórico. São Paulo, Brasiliense, 1983.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2003.
TAYLOR, Charles. El multiculturalismo y la política del reconocimiento. México, Fondo de Cultura Econômica, 1994.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Limites e Possibilidades


Ao se analisar a Educação de Jovens e Adultos em um sentido mais amplo, tomando como referência a pluralidade dos sujeitos que dela fazem parte, constata-se que, longe de estar servindo à democratização das oportunidades educacionais, ela se conforma no lugar dos que “podem menos e também obtêm menos”. Conforme lembra Arroyo (2001.p.10), “os olhares sobre a condição social política, e cultural dos alunos da educação de Jovens e Adultos têm condicionado as diversas concepções da educação oferecida”.
Arroyo (2001), ainda chama atenção para o discurso escolar que os trata, a priori, como evadidos, defasados e outros, deixando de fora dimensões da condição humana desses sujeitos, básicas para o processo educacional.
Portanto, construir uma educação de Jovens e Adultos que produza seus processos pedagógicos, considerando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibilidades de transformar a escola que os atende em uma instituição aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas; que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos como cidadãos e não somente como objeto de aprendizagem.
Para tanto, é essencial que os processos de formação de educadores procurem conhecer as diferentes formas de atendimento da educação de Jovens e Adultos, identificando seus sujeitos, os cotidianos deles, e, fundamentalmente, pensar as possibilidades de um dia-a-dia mais promissor para todos aqueles que encontram nessa modalidade educativa, muitas vezes, a última chance de escolarização.
Por outro lado, os educadores precisam estar atentos para as demandas e potencialidades dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos, considerando-os sujeitos em todas as propostas e projetos pedagógicos, visando possibilitar uma qualidade de vida melhor, através da capacidade de ler, escrever, interpretar e utilizar o que aprendeu no trabalho, nas questões culturais e sociais.
Atualmente, constata-se uma significativa evolução teórica na área de leitura e escrita.
Na alfabetização de jovens e adultas propõe-se que o processo de a aprendizagem da leitura e da escrita ocorra a partir da didática com textos. Essa concepção didática é pouco conhecida e conseqüentemente pouco praticada pelos professores que historicamente, preferem adotar as propostas do silabário como a principal metodologia de alfabetização de jovens e adultos.
Inferimos que as dificuldades de os professores trabalharem com textos estejam relacionados à sua formação. Os conhecimentos e concepções apreendidos ao longo da experiência escolar, possivelmente, estiveram sedimentados na pedagogia tradicional que defende uma proposta de alfabetização pautada no silabário. Nessa perspectiva, muitos professores alfabetizadores acreditam que é fundamental ter um treino da memória, da coordenação motora, noção de lateralidade e discriminação visual e auditiva como base do processo de alfabetização tanto de crianças quanto de jovens e adultos. Por influência da pedagogia tradicional, crêem que os conteúdos escolares somente serão aprendidos através da memorização. Não percebem a necessidade de uma construção conceitual daquilo que está sendo aprendido e ensinado na escola.
Defende-se que a proposta de alfabetizar a partir de textos possibilita contribuições significativas na educação de jovens e adultos. Uma delas relaciona-se a necessidade de trabalhar os conteúdos curriculares de forma contextualizada, o que requer conhecimento e reflexão sobre a realidade social dos educandos. É importante compreender que o trabalho com conteúdos alfabéticos exige um processo sistemático de reflexão sobre suas características, suas regularidades e suas funcionalidades.
Portanto, alfabetizar significa aprender a refletir sobre a leitura e a escrita e compreender o funcionamento do sistema alfabético. Alfabetização é uma construção conceitual apoiada na reflexão sobre as características e o funcionamento da leitura e da escrita. A proposta de alfabetização com textos considera que ler é atribuir um significado e por isso, fornece estratégias de decodificação, seleção, antecipação, inferência e verificação da leitura. A interação com textos reais possibilita trabalhar os diferentes portadores de textos de acordo com a realidade social e com a linguagem dos educandos.
Aprender a ler e a escrever lendo e escrevendo é um dos princípios da proposta de alfabetização com textos. Essa prática requer um conjunto de procedimentos de análise e de reflexão sobre a escrita que exigem uma elaboração cognitiva por parte do aluno, usando como referências os conhecimentos sobre o valor sonoro convencional das letras e informações parciais sobre os conteúdos, para elaborar hipóteses a respeito do que está escrito, utilizando simultaneamente estratégias de leitura que decodifiquem, selecionem, antecipem, infiram e verifiquem o significado do texto.
Na sociedade grafocêntrica, os educandos convivem cotidianamente com o letramento, têm acesso a inúmeros portadores textuais significativos que representam as ações humanas e possibilitam contato com o mundo letrado. Nesse sentido, alfabetizar com textos significa entrar no mundo da escrita e da leitura com compreensão, ampliando a visão de mundo no qual se está inserido. As pesquisas desenvolvidas pela psicogênese mostram que na alfabetização existe um sujeito que busca adquirir conhecimentos, que propõe problemas e tenta resolvê-los segundo sua própria metodologia.

UM OLHAR PARA INCLUSÃO
Claudia Grabois Dischon





A diversidade está presente nas nossas vidas a partir do momento do nosso nascimento. Nunca vimos o rosto de nossos pais, mesmo assim a partir do momento que nos sentimos aceitos e amados neste novo mundo pós-uterino ficamos mais aptos para enfrentarmos a nova realidade, um mundo a ser descoberto e construído.Assim nós crescemos descobrindo e convivendo com o novo até que um dia nos deparamos com as rupturas impostas pelo preconceito, que é filho do medo, às vezes com tanto poder em nossas vidas. Ficamos então com uma grande vontade de banir tudo o que é diferente e passamos anos tentando nos restringir a uma zona de conforto imaginária, que na melhor das hipóteses adiará este encontro fantástico com a diversidade, com pessoas diferentes, em lugares diferentes, de uma maneira talvez um pouco diferente daquela para a qual fomos programados.
Inclusão é uma palavra rica, que envolve compreensão, um novo olhar para o outro, e sobre tudo, um novo olhar para nós mesmos. Inclusão não significa assimilação,não há na inclusão uma perda de valores éticos , religiosos e culturais, pelo contrário, é um adicional ao legado dos nossos pais, é uma soma de culturas com total respeito à diversidade, é na verdade quando temos a chance de encararmos nossos valores e nossa moralidade de frente.
Existem pessoas com deficiências aparentes, sejam elas motoras, físicas ou mentais, estas deficiências estão expostas, as outras pessoas que não se enquadram neste quadro são aquelas com deficiências ocultas em maior ou menor grau. O convite para que venham participar da nossa festa pode ser feito agora, pois todos cabem neste contexto inclusivo de iguais diferentes .
Toda vida é sagrada e a inclusão é escolha pela vida, a aceitação de nós mesmos e precisamos estar presentes nesta celebração inclusiva, de convivência entre diferentes. A partir do momento que nos aceitamos como seres humanos, pessoas que vencem, que falham, que acertam que erram, que também convivem com suas própria limitações, ficamos mais aptos a aceitar quem aparentemente não é como nós. Todos nós temos a centelha divina,somos todos abençoados,há sempre mais uma benção a ser dada e bênçãos são inclusivas. Mesmo que muitas vezes nos pareça difícil, pois são tantos os nossos questionamentos , toda vida é uma dádiva , toda vida é um grande acontecimento.
A inclusão é a igualdade pela aceitação da diversidade, é o caminho da paz social e o caminho da paz no mundo, por mais difícil que está idéia nos pareça.É o desenvolvimento de uma nova ordem ,não é na verdade uma idéia radical,mas ,como já disse,uma escolha pela vida, onde os pais de homossexuais poderão conviver naturalmente com seus filhos,onde uma pessoa em cadeira de rodas terá acesso aos ambientes,pessoas com deficiência mental serão respeitadas ,os cegos e surdos estarão integrados, enfim, a diversidade fará parte do nosso cotidiano.
A inclusão sempre nos fará pensar no mundo em que vivemos e em como desejamos que seja este mundo,para nós,nossos filhos e nossos netos.É o reconhecimento de que todos fomos feitos a imagem e semelhança de D`us, e somos todos capazes de amar e amor é a chave para inclusão.
Somos inclusivos,quando acreditamos que quem não pensa como nós e não tem a nossa crença é merecedor do mesmo respeito de que nós nos consideramos dignos,somos também inclusivos quando acreditamos que quem pensa como nós mas não tem exatamente a nossa aparência é merecedor deste mesmo respeito,somos também inclusivos quando acreditamos que aqueles que não tem a mesma opção sexual são também merecedores deste respeito. Estamos mais próximos da inclusão quando encaramos a velhice de frente,quando encaramos as doenças, quando encaramos nossa auto rejeição, nosso medo da morte. Se ainda não estamos hoje, todos nós estaremos sujeitos a buscar a nossa própria inclusão, em algum momento de nossas vidas, mesmo que seja em retorno, como aquele que afastado de sua religião um dia ouve um chamado e iniciará o caminho de volta, talvez não seja tão fácil aprender as rezas, se relacionar com as pessoas, ainda estranhas, mas é preciso voltar, se incluir, se aproximar, compartilhar, fazer parte e acreditar.
Inclusão é amor , é abraçar a vida, é crença no divino, é fé no potencial humano, é igualdade, diversidade, é compartilhar, discordar,é respeito pela diferença, é o caminho da paz, a busca da plenitude, exercício de tolerância, diminuição brusca da violência, diversidade na sala de aula, riqueza na nossa vida.
Vamos começar nas nossas casas, na nossa comunidade e vamos sonhar juntos que este seja realmente o nosso sonho,o sonho de um mundo inclusivo,o sonho de um mundo melhor.

http://www.cjb.org.br/hod/inclusao/textos/inclusaonadiversidade.htm

DIVERSIDADE: O GRANDE DESAFIO SOCIAL




De acordo com o dicionário Houaiss, diversidade significa qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra; falta de igualdade ou de semelhança; alteração digna de atenção, de reparo; modificação, transformação; característica do que é vário; diversidade, disparidade; falta de harmonia; divergência; falta de eqüidade; desproporção, desigualdade.
Em verdade, pode-se constatar que o Brasil possui a segunda maior população afro-descendente em caráter mundial, depois da Nigéria. O termo “afro-descendente” permeia por uma série de conceitos e termos precedentes que, na prática, consiste no indivíduo ver-se, sentir-se e perceber-se como um descendente de africanos, colocando-se secundariamente como brasileiros. Em uma entrevista ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Kabengele MUNANGA comenta sobre quem é o negro no Brasil:
Parece simples definir quem é negro no Brasil. Mas, num país que desenvolveu o desejo de branqueamento, não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Há pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não se consideram como negras. Assim, a questão da identidade do negro é um processo doloroso.(2004)

Com relação à fala da autora, reconhece-se que no Brasil, sobretudo na Bahia, ainda se faz presente um considerável número de pessoas que se aceitam mais na categoria de “euro-descendentes” do que como “afro-descendentes”, devido ao processo de omissão e aniquilação da participação histórica do negro em nossa cultura. As políticas públicas criam mecanismos, a exemplo das cotas, para que o afro-descendente se apresente com maior fluência na sociedade. Mas se questiona até que ponto essas políticas são compreendidas e contempladoras dos direitos dos indivíduos.
De acordo com os conceitos apresentados nos dicionários que circulam no cunho social, diferença consiste basicamente na qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra falta de igualdade ou de semelhança. A diversidade está mais atrelada à viabilidade, ou seja, remete à heterogeneidade. Percebe-se, portanto, que ambas são síncronas, mas com compreensões individualizadas diferenciadas.

DIFERENÇA / DIFERENTE

Em nosso país, observa-se três curcunstâncias discriminatórias básicas sofridas pelo afro-descendente no mundo corporativo:
 Dificuldades de se obter uma vaga para as funções mais bem remuneradas e valorizadas, ou seja, a discriminação ocupacional.
 Diferenças salariais no exercício das mesmas funções exercidas por brancos.
 Preocupação que as organizações trabalhistas têm, frente à imagem que pode ser construída de um setor de trabalho composto por profissionais afro-descendentes.
Este perverso cenário apresenta-se camuflado pelo discurso de inclusão social e atribuição do preconceito como ação do “outro”. Mas quem é esse outro? Recorda-se neste momento a fala da educadora Nocoleta MATTOS (2007), quando a mesma dizia que preconceito é coisa do outro... e o outro para o outro sou eu. Deve-se acreditar que não há mais espaço para sinalizar a questão do outro, mas sentir-se inserido no processo, ciente que a diferença não é termo do negro, índio, homossesual, afro-descendente: em nossa normalidade, já somos todos diferentes.
Frente à riqueza cultural em que nosso país encontra-se permeado, poderíamos conviver alicerçados a uma realidade de paraíso da democracia racial. Mas de fato, o próprio desconhecimento e descaso da realidade fazem do tema em questão uma esperança de inclusão social.
Objetivando não afunilar a questão da diversidade à afro-descendência, acorda-se também a realidade inaceitável e similar dos pobres, que não foram oportunizados a avançarem economicamente e ficam “a margem” da sociedade como incapacitados e fracassados; das mulheres que, mesmo vivendo no século XXI, ainda disputam por igualdade de direitos com relação ao sexo oposto; dos obesos, que sofrem preconceito pela situação estética e “subentenção” de inatividade no trabalho; do nordestino, que também é ‘rotulado’ como intelectualmente despreparado; o deficiente físico, entre outros.
As compreensões estão expostas, bem como a situação social passa a ser conhecida com teor preocupante. O que precisa a partir de então, é promover discussões sólidas e significativas para difundir os conceitos e compreensões sobre diversidade, inclusão e identidade de forma consciente, em que todos se vejam inseridos no processo e responsáveis pela diferença nos resultados subseqüentes.
Abrir a mente é o primeiro passo para perceber que o ‘outro’ também sou ‘eu’. A diferença está em todos, do contrário, não haveria tantos plurais, a exemplo de religiões, descendências, traços físicos, idiomas, dialetos e, sobretudo, opiniões. Somos pessoas plurais, portanto, somos diferentes.


REFERÊNCIAS:
MUNANGA, Kabengele. In: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Vol.18, nº 50. São Paulo: 2004.

MATTOS, Nicoleta Mendes de. Conferência Regional de Educação Básica. Realizado nos dias 23 e 24/11/2007. Valença-BA. 2007.

A Natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância
Mahatma Gandhi